A criança com IVAS: quando suspender a cirurgia?
Rodney Junqueira Pereira – ME2
Escola Paulista de Medicina
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Caso Clínico
LSJ
Masculino, 3 anos, natural e procedente deSão Paulo
Apresenta IVAS em resolução há 9 dias
Apresentou melhora do quadro há 3 dias
Há 4 dias teve cirurgia suspensa devido aoquadro viral
ASA 1
Caso Clínico
Exame físico
BEG, corado, hidratado, AA, afebril há 4dias
Apresenta rinorréia hialina
Oro e otoscopia sem alterações
MV + bilateral, s/RA
FR = 18 ipm
BRNF 2T SS
FC = 102 bpm
Peso 15 kg
Caso Clínico
Proposta cirúrgica
Bx de tumor em mama E
Pré medicação
Midazolan 1,5mg IV
Monitorização
Caso Clínico
Indução venosa
Fentanil 45 mcg
Propofol 50 mg
Rocurônio 10 mg
Ventilação com Isoflurano
IOT 4,5 s/ cuff
Caso Clínico
Após 5 minutos
houve alto pico de pressão para ventilar +alteração de capnografia + sibilos
Broncoespasmo!!
Após três ciclos de 2 puffs com 100 mcg desalbutamol houve diminuição do BE, porém,sem regressão completa
UTI
Corticoterapia e suporte ventilatório
Extubada 1 dia após
Introdução
IVAS
As infecções das vias aéreas superiores(IVAS) são um dos problemas mais comunsencontrados em serviços de atendimentomédico pediátricos, resultando emmorbidade significativa em todo mundo
É causa mais comum de criançasatendidas por infecção respiratória aguda
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
As vias aéreas superiorescompreendem:
NarizNariz
BocaBoca
FaringeFaringe
LaringeLaringe
Estruturas AssociadasEstruturas Associadas
Rinofaringite aguda
É a doença infecciosa de vias aéreassuperiores mais comum da infância
Crianças menores de cinco anos podem ter decinco a oito episódios por ano
É causada quase que exclusivamente por vírus
os mais freqüentes são: rinovírus, coronavírus,vírus sincicial respiratório (VSR), parainfluenza,influenza, coxsackie, adenovírus.
Ocorre um processo inflamatório da mucosanasal que pode obstruir os óstios dos seiosparanasais e tubário, permitindo, por vezes, ainstalação de infecção bacteriana secundária
sinusite e otite média aguda
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Quadro clínico
dor de garganta, coriza, obstrução nasal,espirros, tosse seca e febre de intensidadevariável, podendo ser mais alta em menores decinco anos.
Alguns pacientes com essa infecção têm o seucurso sem a presença de febre. Determinadostipos de vírus podem também causar diarréia.
Lactentes
inquietação, choro fácil, recusa alimentar, vômitos,alteração do sono e dificuldade respiratória porobstrução nasal em lactentes mais jovens
Crianças maiores
cefaléia, mialgias, calafrios
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Sinusite aguda
infecção bacteriana dos seios paranasais,com duração menor de 30 dias, no qual ossintomas desaparecem completamente
Os seios mais freqüentemente comprometidossão:
»o maxilar e etmoidal
Agentes bacterianos mais comuns são:
Streptococcus pneumoniae, o Haemophilusinfluenzae não-tipável e a Moraxella catarrhalis
Agentes infecciosos virais podem estarassociados a quadros de sinusite
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Quadro clínico
Início pode ser lento ou súbito
Nas formas leves de sinusite
manifestações iniciais de IVAS passam a se prolongarpor mais de 10 dias ou, após período de melhoraclínica, há persistência ou retorno dos sintomas nasais
obstrução e secreção nasal purulenta
pode haver halitose
tosse diurna, com piora à noite
pode ocorrer febre
Formas moderadas a graves, ou em criançasmaiores, as manifestações citadas podem ser maisintensas
edema palpebral, cefaléia, prostração, desconforto oudor, espontâneos ou provocados, no local do(s) seio(s)afetado(s) ou nos dentes
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
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Laringite viral aguda
É uma inflamação da porção subglótica dalaringe, que ocorre durante uma infecçãopor vírus respiratórios
congestão e edema dessa região acarretam umgrau variável de obstrução da via aérea
Maior freqüência
lactentes e pré-escolares
pico de incidência aos dois anos de idade
Mais comuns
vírus parainfuenza I e II e o vírus sincicialrespiratório
Adenovírus, influenza A e B e vírus do sarampotambém podem estar envolvidos
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Quadro clínico
início do quadro com coriza, febrícula etosse
24-48 horas acentua-se o comprometimentoda região infraglótica, com obstrução degrau leve a grave e proporcional dificuldaderespiratória
Na maioria dos casos, ocorre persistênciado quadro obstrutivo da via aérea por 2-3dias e regressão no final de cinco dias
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Exame Físico
Rinofaringite
congestão da mucosa nasal e faríngea
hiperemia das membranas timpânicas
Sinusite aguda
congestão da mucosa
presença de secreção purulenta no meato médio
na orofaringe
gota purulenta pós-nasal
Laringite viral aguda
coriza, obstrução nasal, tosse seca e febre baixa
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Exame físico
Prostração, hipoatividade, tosse rouca,disfonia, afonia ou choro rouco e estridorinspiratório, febre
Em casos de obstrução mais grave
surge estridor mais intenso, tiragem supra-esternal,batimentos de asa do nariz, estridor expiratório eagitação
Nos casos extremos
além de intensa dispnéia e agitação, surgem palideze cianose
Ausculta
roncos, sibilos, estertores
diminuição do murmúrio
Pitrez PMC, Pitrez JLB. Acute upper respiratory tract infections:
outpatient diagnosis and treatment. J Pediatr 2003;79 (1):77-85.
Números interessantes
Frequência de IVAS na cça
6 a 8 episódios/ano
cada episódio dura 7 a 10 dias
hiperreatividade da via aérea permance pormais 4 a 6 semanas
portanto
8 episódios/ano x duração 5 semanas (7 dias deduração clínica + 4 semanas de hiperreatividade) = 40semanas
o ano tem 52 semanas
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temos apenas 12 semanas/ano para operar uma cçaque está na faixa de risco para ter IVAS !!!
Fatores de risco paraintercorrências respiratórias emcrianças com IVAS
Tempo de IVAS (início, durante e resolução)
Estação do ano
História pregressa (ASMA, bronquiolite, PNM)
Classificação de estado físico
Tipo de cirurgia (em VAS, não VAS)
Duração da cirurgia
Tipo de extubação (acordado ou profundo)
História de alergias, rinite alérgica
Sintomas presentes (rinorréia, adinofagia)
Demográficos (sexo, idade, condição sócio-econômica, raça)
Tabagismo (materno, paterno ou ambos)
Agentes anestésicos (indução, manutenção, inalatórios vs.venosos)
História de prematuridade
Uso de anticolinérgicos
Tait AR, Malviya S, Voepel-Lewis T et al. Risk Factors for Perioperative Adverse RespiratoryEvents in Children with Upper Respiratory Tract Infections. Anesthesiology 2001;95:299-306.
Fatores de risco: RESULTADOS
Uso de IOT ( < 5 anos)
Hábito de tabagismo paterno
ASMA, bronquite
ASA > 1
Uso de isoflurano para manutenção
Prematuridade
Cirurgias envolvendo VA
Presença de congestão nasal
Secreção nasal abundante
Tait AR, Malviya S, Voepel-Lewis T et al. Risk Factors for Perioperative Adverse RespiratoryEvents in Children with Upper Respiratory Tract Infections. Anesthesiology 2001;95:299-306.
Fatores de risco do paciente
Comparação de 3 grupos
IVAS recente (<4 sem), IVAS em atividade esaudáveis
Secreção abundante, história deprematuridade, congestão nasal, tabagismopaterno, hiperatividade em VA
< 6 meses (IVAS em atividade)
Aumento na incidência de BE
< 2 anos (IVAS em atividade)
Aumento em dessaturações
Elwood T, Bailey K. The pediatric patient and upper respiratory infections.
Best Pratice & Research Clinical Anaesthesiology Vol.19, No. 1, pp.35-46, 2005
Fatores de risco anestésicos
Duração da cirurgia não é fator de riscoisolado
Grupo de IVAS em atividade
Aumenta em 2 a 7 vezes o risco de eventosadversos no perioperatório
Dentre os não intubados
Aumento de 9 vezes o risco de eventos emcomparação às crianças saudáveis
Nos intubados
Aumento de 11 vezes em relação aos saudáveis
-Em todas as comparações, as crianças comsecreção mucopurulenta foram excluídas
Elwood T, Bailey K. The pediatric patient and upper respiratory infections.
Best Pratice & Research Clinical Anaesthesiology Vol.19, No. 1, pp.35-46, 2005
Indução anestésica
Inalatórios vs. Venosos
Não houve diferença significativa entre os trêsgrupos avaliados
Inalatórios
Não houve diferença significativa entre halotanoe sevoflurano como agentes indutórios
IVAS (somente para o grupo de IVAS ematividade)
Houve diferença na incidência de intercorrênciasrespiratórias na manutenção
ISO > SEVO
»Obs: ISO foi usado para as cirurgias mais longas
Tait AR, Malviya S, Voepel-Lewis T et al. Risk Factors for Perioperative Adverse RespiratoryEvents in Children with Upper Respiratory Tract Infections. Anesthesiology 2001;95:299-306.
Tubo traqueal vs. Máscaralaríngea
Dois grupos para cirurgias eletivas comIVAS em atividade
Similar: idade, sexo, tempos de anestesia ecirurgia, número de tentativas de intubação eapresentação dos sintomas (tempo de evolução)
Não houve diferença na incidência de
Tosse, apnéia, secreção excessiva, arritimias
Diferença significativa em
Broncoespasmo moderado, dessaturação (<90%)
Em números absolutos
Laringoespasmo, apnéia, broncoespasmo edessatuação
Tait AR, Pandit UA et al. Use of the Laryngeal Mask Airway in Children with
Upper Respiratory Tract Infections: A comparison with Endotracheal Intubation.
Anesth Analg 1998;86:706-11
Conclusão
Inalatoria vs. Venosa?
Extubação acordado vs. Em plano?
Uso da lidocaína
Uso de salbutamol pré-indução
Elwood T, Bailey K. The pediatric patient and upper respiratory infections.
Best Pratice & Research Clinical Anaesthesiology Vol.19, No. 1, pp.35-46, 2005
Ungern-Sternberg BS, Habre W et al. Salbutamol premedication in children
with a recent respiratory tract infection. Anesthesia 2009 19:1064-1069
Conclusão
É importante levar em consideração váriosfatores antes de cancelar uma cirurgia
Dito no começo: 12 semanas!
Impacto familiar (dias de trabalhos perdidos,custo com deslocamento)
Custo hospitalar (material, equipe anestésica,cirúrgica, funcionários envolvidos)
Condições clínicas da criança
História bem detalhada com os pais