Pesquisa-ação como estratégiapara desenvolver grupo degestantes: a percepção dosparticipantes
Luiza Akiko K. Hoga;
Luciana Magnoni Reberte
Rev. Esc. Enferm. USP 2007, v.41, n.4, p. 559-66.
Introdução
A assistência pré-natal de qualidade inclui ofornecimento de suporte necessário para que agestante possa vivenciar, de forma ativa e autônoma,um processo que é singular na vida da mulher. Elanecessita compartilhar sua história e suas percepçõese deseja ser acolhida de forma integral pelasinstituições e profissionais que lhe presta assistência.
O desenvolvimento de grupo de gestantes éconsiderado recurso importante para promover oatendimento individualizado e integral dasnecessidades da mulher grávida, seu parceiro e demaispessoas envolvidas.
 
A pesquisa-ação constitui estratégia que possibilitaesta forma de abordagem e favorece a participaçãoativa dos membros do grupo. Neste método, parte-sedo pressuposto de que os questionamentos devememergir espontaneamente dos participantes e essesdevem gerar informações e utilizá-las, de modo aorientar a ação e a tomada de decisões, feitas emconjunto com os pesquisadores.
Objetivo
Verificar a percepção dos integrantes de umgrupo de gestantes relativa à metodologia dapesquisa-ação empregada para desenvolver ogrupo.
Método
O grupo de gestantes foi desenvolvido no Setor deAmbulatório do Hospital Universitário  da USP.
Oito gestantes e quatro acompanhantes integraram o grupo. Aidade variou entre 18 e 39 anos, todas eram casadas ou emunião consensual. Variaram quanto à escolaridade e religião.
Todas referiram boa aceitação da gravidez.
A procura pelo grupo de gestantes é sempre espontânea e esterecurso é amplamente difundido entre as gestantes nodecorrer da assistência pré-natal desenvolvida na instituição.
As sessões grupais tiveram periodicidade semanal realizadasentre setembro e novembro de 2004, totalizando noveencontros.
Os participantes do grupo tiveram a oportunidade de sugerir osconteúdos a serem abordados de acordo com suas necessidades. Oleque de temas citados permitiu definir, nesta mesma sessão, osconteúdos a serem desenvolvidos no decorrer das sessõessubsequentes.
As quantidades de sessões também foi decidida nesta ocasião, emconjunto com os participantes. Estes avaliaram que nove encontrosseriam suficientes para abordar todos os temas requeridos e realizartécnicas corporais.
Todas as sessões foram gravadas em áudio com a finalidade de registraros conteúdos desenvolvidos pelos coordenadores do grupo e osquestionamentos dos participantes. Esta estratégia permitiu delinear odesenvolvimento das sessões até a finalização dos trabalhos.
Foram desenvolvidos no decorrer dos encontros grupais, temas relativosàs transformações físicas, emocionais e no âmbito das relaçõesfamiliares e sociais que ocorrem durante a gravidez, o parto, opuerpério e os decorrentes da chegada de um novo integrante nafamília.
No âmbito do trabalho corporal, houve a demonstração de uma técnica,que foi seguida pela troca entre os casais, ou seja, a gestante recebia aaplicação da técnica em seu corpo e depois, retribuía-a, desenvolvendoo recurso aprendido em seu parceiro.
Foi dada preferência à linguagem popular, para que o entendimentofosse de forma apropriada.
As percepções das gestantes e de seus maridos, relativas ao emprego dametodologia da pesquisa-ação para desenvolver o grupo de gestantes,foram obtidas mediante realização de entrevistas individuais gravadas.
Resultados
A motivação para continuar participando do grupo foi salientadapelo conjunto de participantes.
A forma como os integrantes do grupo foram abordados pelospesquisadores foi valorizada e isto foi interpretado como sendoum incentivo à participação, liberdade para expressar dúvidas,emitir opiniões e compartilhar dos momentos de descontraçãoque existiram nas sessões.
A troca de experiências entre os participantes foi percebida eavaliada como benéfica e o compartilhamento de sentimentos evivências proporcionou um aprendizado conjunto.
Houve menção a algumas limitações impostas pelo empregoda estratégia de pesquisa-ação, como:
Algumas gestantes que frequentaram o grupo semacompanhante, demonstraram dificuldades de expressão deideias e sentimentos.
Algumas pessoas, consideradas tímidas, não se expressaramverbalmente tanto quanto gostariam.
Alguns participantes expressaram dificuldades nas sessões,devido a heterogeneidade dos componentes do grupo.
Os participantes sugeriram para o primeiro encontro do grupo, aexposição de um conteúdo mínimo a ser desenvolvido e oestabelecimento de um cronograma de atividades.
Considerações finais
O compartilhamento de experiências, que favorece a constataçãode que as pessoas vivenciam situações semelhantes, propicia acompreensão mútua e confere ressonância aos depoimentos. Istoocorre quando há estímulo à interação entre os sujeitos dapesquisa e os pesquisadores, que é promovido pelo emprego dapesquisa-ação.
A pesquisa-ação pressupõe a valorização da capacidade deaprendizado dos participantes, que são considerados atoressociais ativos, capazes de produzir conhecimento e participar natomada de decisões grupais, com liberdade de expressão.
Conclusão
Considerados os benefícios e superadas as limitações, avalia-seque o desenvolvimento de grupo de gestantes com o emprego daestratégia da pesquisa-ação é uma atividade relevante,constituindo um recurso importante na promoção da qualidadeda assistência à gestante e sua família.
Este dado constitui subsídio à implementação definitiva deestratégias de desenvolvimento de grupos de gestantes comcaráter participativo de todos os integrantes, tendo em vista queelas contribuem para a satisfação coletiva na realização de umtrabalho.